Anos atrás, quando ainda morava em Pinheiros, promovemos em casa alguns recitais de poesia e prosa. Em um deles, As Vitrines, Alessandra Veloso - que o protagonizou - incluiu estes dois poemas no repertório. O primeiro é de minha autoria (e aqui homenageia meu amigo Domingos que, aliás, o interpreta muito bem), e o segundo é da lavra pulsante de Elisa Lucinda.
As Vitrines foi produzido por Alessandra, dirigido por mim, e teve sonoplastia de Wilsinho Azevedo.
MORCEGO
Tenho medo da noite,
medo do que se cala.
Ao escuro, ao silêncio da noite
reagimos em casa com lampiões, candeias e lamparinas.
Minha sorte é que temos um pé direito alto,
sem forro.
Subo para ali e me assento nas vigas,
nas madeiras do teto.
Sento sobre minhas pernas vergadas
e vejo a vida de cima,
fugindo dos entremeios,
das discussões ociosas,
da falta de discussão.
Tenho medo, sim, é verdade,
mas aqui em cima estou a salvo.
Assobio imitando corujas,
abro e fecho os braços,
sorrio com presas pontiagudas,
morcego.
COR RESPONDÊNCIA
Remeta-me
os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem-feito
que você tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era seu jeito
ou de propósito
mas era bom
sempre bom
e assanhava as tardes
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.
domingo, 3 de janeiro de 2010
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5 comentários:
Poesia é para quem pode, não para quem quer. Parabéns aos dois poetas! Gostaria de saber mais sobre Elisa Lucinda. Tenho certeza que o evento foi bárbaro!
Seu poema é arrepiante, o de Luisa é excitante. Imagino o q deve ter sido este sarau...
maria
Meninos eu ví !!!
O meu único crédito, em referência ao Sarau, foi o de ter me tornado fã "number one" das belíssimas produções literárias do grupo tão bem engendrados, apresentados e dirigidos. Amo tudo que é dito, da maneira que foi dito e das reações que o dito causou em minh'alma.
Parabéns, crianças, por existirem e acrescentarem tanto à minha vida, que nunca mais foi a mesma desde o tempo que os conhecí...
Dom !
Mentes, contribuistes muito ! De tudo que fiz nunca me esqueci da obra prima da galhardia criada a 4 mãos (com as suas 2 !)...
Tomo licença para também postar um versinho:
"Redunda Relva que a Roupagem Estouca"
bjos
Alê,
Torcida de tio coruja também vale !!!
Abços estreitos e bjos, muitos bjos...
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